4 de jul. de 2010

DESDE QUE O SAMBA É SAMBA É ASSIM
por andressa lacerda


Citando Paulinho da Viola, Caetano Veloso afirmou que é possível, para o samba, incorporar instrumentos como o contrabaixo e a bateria sem deixar de ser samba. Segundo ele, a linha evolutiva da MPB, através principalmente da Bossa Nova e da Tropicália, vai permitir que essas mudanças no samba sejam uma modernização que retoma a tradição. Discutir esse ponto de vista é a proposta deste texto crítico.

Considero que o samba é um movimento popular (e sua história, que abordarei abaixo, indica isso). Tem elementos próprios, que sempre caracterizaram sua origem popular, ligada ao contexto de sua criação. Os instrumentos mais típicos do que se entende por samba sempre foram mais rústicos e de batucada, como o pandeiro, o tamborim e outros. Por isso, a utilização de instrumentos eletrônicos, por exemplo, descaracterizaria o gênero.

Não quero dizer com isso que exista um samba puro, ou de raiz. Compreendo que os gêneros se misturam, que a antropofagia é mais do que válida. Mas acho importante que nesse movimento o samba, assim como qualquer estilo, mantenha sua tipicidade, pois isso garante a diversidade e riqueza que a música sempre teve. Penso que a partir do momento em que o conceito de samba se torna amplo demais, ele acaba por se tornar ineficaz.

Mesmo reconhecendo que existe a possibilidade de misturas que modernizam, como a junção entre música eletrônica e tango, para citar um exemplo, o resultado disso é o surgimento de um novo estilo, o “tango eletrônico”, que já não é nem mais tango nem apenas música eletrônica. Não sou, portanto, contra a incorporação de instrumentos como o contrabaixo e a bateria no samba, ou no tango, ou no jongo, dentre outros, mas não concordo que a denominação dessa mistura seja samba, tango ou jongo.

Para muitos, a incorporação dos instrumentos citados acima foi importante para a legitimação de movimentos que tomam o samba como ponto de partida, caso da Bossa Nova. E também, sem dúvida, permitiu a reapropriação do samba por outras camadas sociais, como a classe média, o que levou a uma recente popularização do mesmo. Considero que isso seja válido.

Porém, se misturar é bom e parte do processo cultural, respeitar a diversidade e a tipicidade de cada gênero também. O samba, em sua origem, está ligado à história da exclusão social, tendo sido criado nos morros, por uma população predominantemente negra, e os instrumentos e escolhas rítmicas e melódicas estão ligados a isso. As características originais do samba são um importante registro de uma história que precisa ser lembrada.

Um comentário:

Anônimo disse...

fraco