26 de abr. de 2010

uma noite em 67
TRAILER



Era 21 de outubro de 1967. No Teatro Paramount, centro de São Paulo, acontecia a final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Diante de uma plateia fervorosa - disposta a aplaudir ou vaiar com igual intensidade -, alguns dos artistas hoje considerados de importância fundamental para a MPB se revezavam no palco para competir entre si. As canções se tornariam emblemáticas, mas até aquele momento permaneciam inéditas. Entre os 12 finalistas, Chico Buarque e o MPB 4 vinham com “Roda Viva”; Caetano Veloso, com “Alegria, Alegria”’; Gilberto Gil e os Mutantes, com “Domingo no Parque”; Edu Lobo, com “Ponteio”; Roberto Carlos, com o samba “Maria, Carnaval e Cinzas”; e Sérgio Ricardo, com “Beto Bom de Bola”. A briga tinha tudo para ser boa. E foi. Entrou para a história dos festivais, da música popular e da cultura do País.

“É naquele momento que o Tropicalismo explode, a MPB racha, Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos, e se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época”, resume o produtor musical, escritor e compositor Nelson Motta. O Festival de 1967 teve o seu ápice naquela noite. Uma noite que se notabilizou não só pelas revoluções artísticas, mas também por alguns dramas bem peculiares, em um período de grandes tensões e expectativas. Foi naquele dia, por exemplo, que Sérgio Ricardo selou seu destino artístico ao quebrar o violão e atirá-lo à plateia depois de ser duramente vaiado pela canção “Beto Bom de Bola”.

O documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, mostra os elementos que transformaram aquela final de festival no clímax da produção musical dos anos 60 no Brasil. Para tanto, o filme resgata imagens históricas e traz depoimentos inéditos dos principais personagens: Chico, Caetano, Roberto, Gil, Edu e Sérgio Ricardo. Além deles, algumas testemunhas privilegiadas da festa/batalha, como o jornalista Sérgio Cabral (um dos jurados) e o produtor Solano Ribeiro, partilham suas memórias de uma noite inesquecível.

Fonte: http://www.umanoiteem67.com.br/

os festivais da record
EDIÇÃO HISTÓRICA

20 de abr. de 2010

a bossa nova e o gênio incompreendido
JOÃO GILBERTO

A partir da pesquisa e análise das matérias a respeito da Bossa Nova na Folha de São Paulo entre Agosto e Novembro de 2008 pretende-se entender o processo de valoração do movimento na esfera musical brasileira pela crítica cultural.

BOSSA NOVA
Bossa nova se refere ao movimento da música popular brasileira que se inicia no Brasil no fim da década de 50 e propunha um novo modo de se tocar samba, associado principalmente aos estilos de João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A Bossa Nova hoje em dia é um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo.

CRÍTICA CULTURAL
A critica cultural se apresenta hoje como a entidade mediadora das relações do meio artístico. No caso da esfera musical, seja entre o músico e o público ou entre o músico e as gravadoras, casas de shows, etc. O crítico detém o capital cultural que lhe permite fazer o juízo de valor que pode legitimar ou não um certo movimento musical ou artista específico. O crítico de um grande veículo de comunicação tem a sua fala validada e é, desse modo, capaz de contribuir para a manutenção de um discurso e produzir sentido. A palavra da crítica não é determinante pois não pode garantir o sucesso comercial de um artista mas ainda assim é um instrumento poderoso de afirmação do que é se é considerado bom.




Hoje a bossa nova é quase universalmente reconhecida como uma das manifestações mais altas da cultura brasileira. Um disco como 'Chega de Saudade' é pelo menos tão importante quanto qualquer outra obra de arte da mesma época. (Antonio Cícero. Notas sobre Vinicius de Moraes. Caderno Ilustrada. Folha de São Paulo. 9 agosto 2008)


A Bossa Nova aparece hoje como o parâmetro no qual todas as outras manifestações da Música Popular Brasileira são comparadas. Atrelada sempre a um ideal de bom gosto, o movimento atingiu o patamar de "alta cultura".

Não se menciona novos artistas do gênero. A cena musical recente pode ter a Bossa Nova como influência, propôr releituras, mas o cânone já está estabelecido. A aura da Bossa Nova é intimamente ligada a um sentimento de nostalgia. As matérias retomam os "grandes mestres" do passado, mencionam a criação do movimento e seus precursores e o jornalista invariavelmente apresenta um tom honroso como que prestando respeito aos clássicos da música brasileira.

A admiração pela Bossa Nova por parte da crítica fica evidente nas notícias sobre João Gilberto que foram veiculadas na época em que o cantor se apresentou ao vivo depois de 5 anos sem subir nos palcos. Na reportagem "Vizinha gosta do cantor, mas nunca o viu", de Caio Jobim (Folha de São Paulo, 14 agosto 2008), João Gilberto é retratado como um sujeito recluso e anti-social, mas ao fim da matéria Jobim afirma: "Um segurança que trabalha cuidando das lojas perto do prédio do cantor afirma que 'tudo que envolve ele é meio estranho'. Assim como, há 50 anos, muitos estranharam a música do cantor de voz contida e violão sincopado que firmou as bases da bossa nova". O comportamento excêntrico de João Gilberto aqui é visto como mal interpretado e é justificado a partir do exemplo de sua própria obra uma vez que esta já possui a qualidade de legítimo. E em uma esfera social em que esquisitice transcreve singularidade e originalidade, João Gilberto é elevado, para além da sua música, ao nível de gênio incompreendido.

O elogio ao movimento musical também pode ser percebido na Folha de São Paulo quando no segundo semestre de 2008 o jornal lança a Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova. A compilação composta por 20 livros-CDs se propõe a fazer um panorama do movimento e seus principais expoentes, tem função de comemorar o momento histórico em que o estilo musical surge e de instruir e angariar novos admiradores. É um movimento que torna a Bossa Nova ainda mais célebre.

(link alternativo para matéria de Caio Jobim)

5 de abr. de 2010

música e preconceito
BOM OU MAU GOSTO?

A Paula Gabriela sugeriu uma matéria da Revista da Cultura que discute mau gosto X bom gosto na MPB, "verdades" universais e discurso vigente, cultura, identidade e preconceitos. Afinal, que "mau gosto" é esse?


por Pedro Alexandre Sanches


Baião, xote, xaxado. Lamê, cafona, brega. Axé, lambada, c ar imbó. Jovem Guarda, iê-iê-iê, canção romântica. Samba de morro, samba joia, partido alto, pagode. Música caipira e sertaneja, guarânia e vanerão. Canção de protesto. Pop. Heavy metal, rock progressivo, emo. House, tecno, electro. Tecnobrega, forró, funk carioca, rap. Cada um desses gêneros musicais tem seguidores aos milhões, mas também tem de enfrentar exércitos às vezes reduzidos, mas sempre barulhentos, de detratores.

Em sua maioria, desperta ódio especial junto a consumidores tidos como cultos, intelectuais, críticos, formadores de opinião. Esses trazem sempre na cartola o argumento de preferir música dita fina, refinada, sofisticada, mas tampouco seus gêneros prediletos se safam de outros tipos de muxoxos, narizes torcidos e intolerâncias. Música erudita. Jazz. Blues. Bossa nova. Clube da esquina. MPB. Supostamente, estamos falando de estética, das distinções entre o que se entende como música “de qualidade” e “sem qualidade”, “boa” e “ruim”, de “bom gosto” e “mau gosto”. A zona fronteiriça entre os dois extremos é frequentemente nebulosa, pantanosa e fugidia, daquelas de atolar em areia movediça quem exiba muita certeza sobre onde está pisando. Ainda assim, há sempre alguém disposto a decretar, pronta e despoticamente: “Brega é lixo”, “música caipira não presta”, “iê-iê-iê é uma porcaria”.

Atrás das cortinas do “bom gosto” e do “mau gosto”, esconde-se um bichinho do qual em geral preferimos fugir a 120, 150, 200 quilômetros por hora e que atende pelo nome de preconceito. Será que eu desprezo o axé porque é péssimo ou porque desejo me manter bem distante dos baianos periféricos, pobres e pretos que o inventaram? Você detesta os emos porque fazem rock muito pauleira ou porque não se dá bem com seus figurinos esquisitões, soturnos, sexualmente indefinidos? É ficar entre uma coisa ou outra, indubitavelmente? Ou a repulsa (extra) musical nasce de uma gororoba mista disso tudo?

Pra ler a matéria na íntegra, é melhor seguir o link:
http://www2.livrariacultura.com.br/culturanews/rc32/index2.asp?page=capa

1 de abr. de 2010

rômulo fróes
ENTREVISTA

O entrevistão do mês de abril no Scream & Yell é com o músico Rômulo Fróes. Vale a pena dar uma conferida.


por Marcelo Costa e Tiago Agostini
colaboração de Marco Tomazzoni
fotos de Liliane Callegari

Em certo momento das quase cinco horas de conversa para esta entrevista, Romulo Fróes foi categórico: a cena atual é uma das melhores da história da música brasileira. Alguns podem torcer o nariz, principalmente aqueles que não acompanham o cenário independente nacional dos últimos dez anos, mas a afirmação do compositor tem base sólida e não é fruto de alguém que vive em um universo paralelo negando o passado.

Ok, a atual música brasileira de qualidade dialoga com passado e com futuro ao mesmo tempo, mas vive num universo paralelo por questões pontuais de mercado e exposição. O jornal não tem a mesma força de antigamente. A televisão, na maioria das vezes, transforma o artista em mico de circo. E as rádios, o principal veículo de massa quando o assunto é música, está viciada em jabá necessitando urgentemente de uma rehab.

"A internet é o quarto momento", explica Romulo Fróes enquanto busca formatar um discurso em meio a um grupo de pessoas que compreende música de uma forma muito mais ampla do que nos anos 60, por exemplo, mas não sabe se portar direito quando precisa falar da própria obra, não tem a manha do negócio, não exercita o conceito, o manifesto. "Não sei se falta ambição. Pode ser", diz Romulo.

Tendo como parceiros letristas os artistas plásticos Nuno Ramos e Clima, Romulo Fróes adianta que está voltando ao samba em seu quatro disco, em fase de gravação, que promete ser seu álbum mais representativo. "Não à toa estou pensando em chamá-lo de ‘Romulo Fróes’ pela primeira vez, e aparecer na capa". Nas canções, o cavaquinho de pagode de Rodrigo Campos encontra a guitarra estridente de Guilherme Held.

Neste extenso e interessante bate papo regado a cervejas, Romulo joga louros sobre uma porção de jovens cantoras e compositores, cobra postura daqueles que não fazem nada para a cena se transformar em algo maior e conta que quer fazer shows em Recife, no Acre e em Belo Horizonte, mas não paga pra tocar. Fala da festa semanal que está organizando no CB, em São Paulo (e que nesta quinta conta com show da Banda Gentileza - infos aqui), e, sobretudo, se mostra feliz com o que tem, mas não satisfeito. Quer mais. Meia dúzia de caras como ele talvez mudassem as coisas.

Com vocês, uma alma pensante em meio a terra devastada. Romulo Fróes:

(...)

A gente tem um mercado falido. A Tropicália surgiu no final dos anos 60, com militares no poder, mas eles ainda conseguiram aparecer no mercado, conseguiram chamar a atenção.
Era a TV começando a rolar, né. A internet é o quarto momento disso. Primeiro teve a indústria fonográfica, que começou a gravar disco. Depois o rádio, a TV e agora a internet. Curiosamente, nesses quatro momentos estavam rolando um monte de coisas. Estou lendo agora a biografia da Carmen Miranda e o negócio do rádio foi uma maluquice. Não foi fácil. Então as coisas se ajustaram e todo mundo nadou nas ondas do rádio. Chegou a TV e uma galera caiu fora. Vicente Celestino se fodeu, e o Roberto Carlos começou a surfar na onda. A internet, de certa forma, fodeu uma galera também. O povo da MPB que fica chorando por causa da pirataria, falando que não vende disco, tipo o Fagner reclamando na TV. O Fagner se fodeu, em certo sentido. A Biscoito Fino fica reclamando… aquela porra daquela banqueira. E tem a minha turma, que só existe por causa da internet. Só que talvez seja a geração mais difícil de assentar e se mostrar justamente porque o negócio ficou muito amplo. É muita gente fazendo no mundo inteiro a toda hora. Está cada vez mais difícil de formar o negócio.

A facilidade que a internet leva pras pessoas mostra que tem muito mais coisa acontecendo, e você não concorre só com o Cidadão, com a Lulina e com o disco novo do Caetano, mas também com Pixinguinha. O cara vai, baixa o disco e ouve.
Acho que a gente pertence a uma geração que tem uma percepção diferente. E tem que parar com isso. Eu cada vez me ponho mais o desafio: posso ser esse cara pra sempre, do meu tamanho, que gravo meus disquinhos, vendo mil cópias e é isso, acabou. Talvez não exista mais o fenômeno Caetano Veloso, Gilberto Gil, os caras que fizeram música de invenção e ainda assim tiveram apelo popular no Brasil inteiro. Talvez não tenha mais. Estou cada vez mais me forçando a isso: você grava teu disco, tem uma turma que ouve, um povo te chama pra fazer entrevista, que gosta de você e é isso, acabou. Talvez a sua tia nunca vá saber que você grava disco. Tem um monte de parente meu que não sabe que eu gravo. (Por outro lado) essa angústia vai tomando conta. Entendo que pessoas como o Bruno Morais, por exemplo, que gosto muito, tenham essa angústia. Ele faz música pop, comercial. Ele não está fazendo maluquice. (Está cantando) "Corações partidos". Ele é fofo, podia estar na novela das 8 fácil. Não está porque não é mais… Acho o Curumin um exemplo louco. Ele nasceu pra ser ídolo pop, pra ser do tamanho do Tim Maia e do Jorge Ben.

Mas voltamos naquele ponto de que não há combatividade, união. No documentário do Jards Macalé tem uma parte que ele fala: "Então, lá em casa, no quartinho do fundo estavam o Torquato, o Chacal, o Caetano, o Hélio Oiticica, o Wally e eu imaginava: não vai sair coisa boa, os caras enfurnados num quarto 4 x 4". Era uma cena sendo pensada, um pessoal que chegou com um discurso, assim como o manguebeat, que não bateu tão forte (como apelo popular), mas chegou com um manifesto.
O discurso da minha geração, sem ter sido organizado, é o do cara que faz sozinho e foda-se. E eles fazem do jeito que querem. Aprenderam a gravar disco, gravam em casa, e sabem dessa porra como nenhuma geração soube. O Curumin sabe mais de estúdio do que muito engenheiro de som que trabalhava para gravadora nos anos 70. E não é só ele: é o Catatau, é todo mundo. Nós fazemos os nossos discos, os nossos shows e não precisamos de ninguém. É um discurso meio punk. Mas eles também não querem ter discurso. É isso: "Eu não tenho discurso, não tenho pensamento. Eu faço um som, gravo um disco em casa e não enche o saco". Isso é uma espécie de não discurso, talvez.

Você acha que isso atrapalha? Falta ambição a essa geração?
Falta ambição… Que pergunta, hein (risos).

Vamos imaginar essa geração daqui há 20 anos…
Eu acho que a gente vai continuar gravando disco. Tenho certeza que a galera vai estar fazendo música e talvez vá estar no mesmo patamar que está hoje, de fazer disco, uma turnêzinha na Europa, e volta. É gravado por não sei quem. Não sei se falta ambição (relutante). Pode ser. Eles podem estar satisfeitos com o que eles têm. Aliás, eu acho que eles são muito satisfeitos com o que eles têm.

O negócio é o rádio…
Isso é foda, cara! A gente não tocar no rádio. Imagina ficar tocando "Para Fazer Sucesso" no rádio, o tempo inteiro, em varias rádios? Duvido que essa porra não vire. A rádio é mais forte que a TV. Lá você é um mico de circo. No rádio não, é perfeito, você fica feliz. O que importa é a musica. Toda vez que toquei em rádio era uma loucura, todo mundo ligava, mas são eventos muito especiais. A minha piada é que toda vez que toco no rádio é porque eu estou na estação. Eu sei que já aconteceu, mas nunca tive o prazer de me ouvir no rádio…

Nosso problema é que aqui eles se acostumaram a receber R$ 30 mil pra tocar o disco da gravadora, então ele não vai tocar seu disco de graça porque abre precedente. Ai ele pega e toca o Caetano – velho. Não toca o disco novo do Guns, toca "Sweet Child of Mine". Só velharia, as novidades são de quem está pagando, e as pessoas não mudam. Tanto não mudam que o Caetano é o terceiro maior arrecadador de direitos autorais do Brasil hoje…
E não tem nenhuma música do "Ce" e do "Zii e Zie". A TV eu quero que se foda, o jornal é legal porque todo dia tem alguém na capa, mas rádio tinha que mudar. O povo me conhece em Curitiba por causa da Rádio Lúmen (ouça aqui), que me toca bastante. Não tem disco meu em Curitiba pra vender. A minha tia iria saber que sou músico se eu tocasse no rádio. A minha mãe é um caso clássico. Ela não tem gosto nenhum, e ouve radio desde que nasceu. Ouvia Aracy de Almeida, ama Dolores Duran, Orlando Silva, até hoje, porque ouviu no rádio. Hoje ela ama o Zezé di Camargo, a Claudia Leitte, porque ela não faz distinção. Está todo mundo tocando no rádio, ela canta igual. Então o que tocar ela vai gostar. Falar que o rádio toca o que o povo quer ouvir é uma balela.

Ele dita o q o povo quer ouvir.
Sim. E meu pai, que tem um gosto foda (mas não ouve mais música, nem o meu disco), diz que também tinha música ruim naquela época, mas as duas tinham o mesmo peso, você escolhia o que queria ouvir, e a música boa eventualmente ganhava. Hoje a concorrência é desleal: como eu vou concorrer com a Claudia Leitte? A Maria Bethânia criou um subselo, lança um disco por ano, e não toca na rádio, mas está lançando. A Gal Costa morreu. Mesmo quando ela quis fazer um disco de novos compositores fez tudo errado, não se envolveu. Ela esqueceu quem eu sou, e eu já tive com ela. Pra mim a Gal é a maior cantora de todos os tempos, mas a carreira de hoje morreu. O Jorge Ben morreu. O Caetano está vivíssimo. O Gil vai ressuscitar agora, já gostei do último disco dele. O Paulinho da Viola lança um clássico a cada dez anos, tem o tempo dele. O Chico…

O Chico às vezes se perde nesse negócio de pegar uns puta músicos para fazer uns arranjos e se esquece da simplicidade de "João e Maria"…
Mas ele não sabe nada de som. Ele está pouco se fodendo. O último disco dele, "Carioca", é foda. Tem um documentário… o produtor está ali na frente dele fodendo a música, com um arranjo horrível, e o Chico preocupado com um cacófato, nego começou a dar risada e ele: "O que foi?". "Ah, Chico, é que está 'como um gato a sua dona', é a suadona, né". Ai ele começa a se preocupar, a música é linda, o cara estragando a música até que ele chega a "aos pés da dona". E fica. O Caetano não. Ele chama o Pedro Sá pra fazer rock. O Chico quer fazer música boa – e ele faz aos rodos – e dá na mão de um mané. Às vezes dá certo, às vezes não, mas ele não fica pensando nisso. Ele pensa na suadona. "Carioca" é foda, a primeira música é muito boa, mas o som do disco é uma bosta.

O que você pensa sobre o seu futuro?
Eu estou ficando velho, meu truque perfeito não deu certo, eu já saquei que não vai acontecer ou se acontecer é por questões que não estão ao meu controle. Então quero continuar gravando disco, continuar com o que conquistei, fazer o disco, lançar, dar entrevista, então acaba e começa tudo de novo. Tem o momento pré-disco novo, que é do caralho, e ele nem existe ainda. Então você ouve umas coisas que você não tava pensando… vou sair daqui cheio de coisa na cabeça. E eu acho legal registrar esse processo. Eu conquistei algo que é poder fazer musica, e eu acho isso foda. Se o Caetano falar que gosta de mim eu vou achar foda. Se a Marisa Monte gravar uma música minha vou achar foda. Se a Universal quiser me contratar eu ia achar foda, mas só se eu puder fazer o que eu faço, senão vai tomar no cu. É ridículo artista novo que vai pra gravadora e diz que faz o que os caras querem. Foda-se. Trouxa, você não precisa disso. Antes você não gravava em casa, tinha que depender de uns caras desses. O Liminha ficava falando merda pros Titãs. Você tinha que dar conta daquilo, mas não precisa mais engolir sapo hoje em dia. Talvez você também esteja perdendo coisas, porque o Liminha também tinha algo a dizer…

Essa liberdade em excesso não faz as pessoas passarem dos limites?
Não acho ruim passar dos limites. Acho merda ficar aquém dos limites, porque não ouve outra pessoa, não se expõe. A pior coisa da arte é o neguinho não se expor, o gênio de boteco. E hoje ele não cola mais. Nos anos 60 tinha o gênio de boteco que dizia que não gravava porque era um artista integro, não faz pacto com ninguém. Em artes plásticas tem muito disso. Em música não tem mais. Eu faço o que quero na minha gravadora, no estúdio. Você lança seu disco. Pode não ter o esquema da grande gravadora, e é isso que eu falo: se a Warner me chamasse eu ia amarradão porque eles tem algo que não tenho. Vão me fazer tocar no Canecão. A Mariana Aydar tem isso. Ela é da minha geração, tocou no Canecão e eu no Cinematheque. Ela tocou no Canecão por que é melhor que eu? Talvez, mas também porque ela tem a gravadora. E isso não faz dela uma artista menor, porque ela fez o disco que ela queria, ninguém encheu o saco. O Zeca Pagodinho está lá porque ela ama ele, e cantando música dela. Se você não faz disco nas suas condições está fora. Eu prefiro a Nina como artista. Ela vai lançar dois discos lindos, bem mais que o da Mariana. Mas a Mariana é uma cantora fenomenal que gravou um disco super bonito, e eu acho legal, porque eu quero ter as duas pra mim. E já que não da pra ter duas em uma eu pego as duas. A Mariana que é uma cantora fenomenal e a Nina que é mais parecida comigo. A Mariana é coração. A Nina não, vai lançar dois discos, gravou três (canções do Jorge) Mautner. Ela é louca de ter feito isso. A Mariana é mais clássica. É a Maria Bethânia e a Gal Costa.

Pra finalizar, como você vê essa cena de hoje? É uma das melhores dos últimos tempos?
Acho uma das melhores da história. É foda porque estou dentro dela, e fica difícil comparar com os anos 30, ou com 60/70. Vai ter que passar uns 20 anos pra neguinho olhar pra trás, mas o Cidadão Instigado já lançou dois discos que, pra mim, estão entre os maiores da história da música brasileira. O Los Hermanos, o + 2… tem uns dez discos que acho que estão entre os melhores da discografia de todos os tempos. Tenho certeza disso. Agora, é uma cena que surgiu no fim do mundo, terra desvastada. Ninguém ouve…

Para ler a conversa na íntegra é só seguir o link:
http://screamyell.com.br/site/2010/04/01/entrevista-do-mes-romulo-froes/