20 de abr. de 2010

a bossa nova e o gênio incompreendido
JOÃO GILBERTO

A partir da pesquisa e análise das matérias a respeito da Bossa Nova na Folha de São Paulo entre Agosto e Novembro de 2008 pretende-se entender o processo de valoração do movimento na esfera musical brasileira pela crítica cultural.

BOSSA NOVA
Bossa nova se refere ao movimento da música popular brasileira que se inicia no Brasil no fim da década de 50 e propunha um novo modo de se tocar samba, associado principalmente aos estilos de João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A Bossa Nova hoje em dia é um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo.

CRÍTICA CULTURAL
A critica cultural se apresenta hoje como a entidade mediadora das relações do meio artístico. No caso da esfera musical, seja entre o músico e o público ou entre o músico e as gravadoras, casas de shows, etc. O crítico detém o capital cultural que lhe permite fazer o juízo de valor que pode legitimar ou não um certo movimento musical ou artista específico. O crítico de um grande veículo de comunicação tem a sua fala validada e é, desse modo, capaz de contribuir para a manutenção de um discurso e produzir sentido. A palavra da crítica não é determinante pois não pode garantir o sucesso comercial de um artista mas ainda assim é um instrumento poderoso de afirmação do que é se é considerado bom.




Hoje a bossa nova é quase universalmente reconhecida como uma das manifestações mais altas da cultura brasileira. Um disco como 'Chega de Saudade' é pelo menos tão importante quanto qualquer outra obra de arte da mesma época. (Antonio Cícero. Notas sobre Vinicius de Moraes. Caderno Ilustrada. Folha de São Paulo. 9 agosto 2008)


A Bossa Nova aparece hoje como o parâmetro no qual todas as outras manifestações da Música Popular Brasileira são comparadas. Atrelada sempre a um ideal de bom gosto, o movimento atingiu o patamar de "alta cultura".

Não se menciona novos artistas do gênero. A cena musical recente pode ter a Bossa Nova como influência, propôr releituras, mas o cânone já está estabelecido. A aura da Bossa Nova é intimamente ligada a um sentimento de nostalgia. As matérias retomam os "grandes mestres" do passado, mencionam a criação do movimento e seus precursores e o jornalista invariavelmente apresenta um tom honroso como que prestando respeito aos clássicos da música brasileira.

A admiração pela Bossa Nova por parte da crítica fica evidente nas notícias sobre João Gilberto que foram veiculadas na época em que o cantor se apresentou ao vivo depois de 5 anos sem subir nos palcos. Na reportagem "Vizinha gosta do cantor, mas nunca o viu", de Caio Jobim (Folha de São Paulo, 14 agosto 2008), João Gilberto é retratado como um sujeito recluso e anti-social, mas ao fim da matéria Jobim afirma: "Um segurança que trabalha cuidando das lojas perto do prédio do cantor afirma que 'tudo que envolve ele é meio estranho'. Assim como, há 50 anos, muitos estranharam a música do cantor de voz contida e violão sincopado que firmou as bases da bossa nova". O comportamento excêntrico de João Gilberto aqui é visto como mal interpretado e é justificado a partir do exemplo de sua própria obra uma vez que esta já possui a qualidade de legítimo. E em uma esfera social em que esquisitice transcreve singularidade e originalidade, João Gilberto é elevado, para além da sua música, ao nível de gênio incompreendido.

O elogio ao movimento musical também pode ser percebido na Folha de São Paulo quando no segundo semestre de 2008 o jornal lança a Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova. A compilação composta por 20 livros-CDs se propõe a fazer um panorama do movimento e seus principais expoentes, tem função de comemorar o momento histórico em que o estilo musical surge e de instruir e angariar novos admiradores. É um movimento que torna a Bossa Nova ainda mais célebre.

(link alternativo para matéria de Caio Jobim)

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